Palavras iniciais...
Um dos maiores temas em discussão na sociedade, hoje, é a questão da sustentabilidade, ainda que este conceito possa assumir vários matizes, a depender dos diferentes segmentos que o abordem.
O que parece estar em jogo, em linhas gerais, é o estabelecimento de certos consensos sobre a gestão dos recursos naturais de modo consciente, considerando-se as necessidades desta e das próximas gerações.
Pensando nisso, decidimos trazer para este espaço, algumas das contribuições de Fritjof Capra.
De acordo com Capra (Capra, 2006):
"Em primeiro lugar, todo organismo vivo, da mais minúscula bactéria a todas as
variedades de plantas e animais, incluindo os seres humanos, é um sistema vivo.”
“Em
segundo, as partes dos sistemas vivos, são
elas próprias, sistemas vivos. Uma folha é um sistema vivo. Um músculo é um
sistema vivo. Cada célula do nosso corpo é um sistema vivo.”
“E,
em terceiro, as comunidades de organismos,
que incluem tanto os ecossistemas e os sistemas sociais humanos como a família,
a escola e outras comunidades humanas, são sistemas vivos.”
“(...)
a maioria dos biólogos afirma que a essência da vida está nas macromoléculas –
DNA, as proteínas, enzimas e outras estruturas materiais das células vivas. A
teoria dos sistemas vivos nos diz que o conhecimento dessas moléculas é,
obviamente, muito importante, mas que a essência da vida não está nas
moléculas. Ela está nos padrões e processos por meio dos quais essas moléculas
interagem. Não
se pode tirar uma fotografia da teia da vida porque ela não é material – é uma
teia de relações.”
O ponto de vista sistêmico...
Fritjof Capra: nos ensina que “Essa forma de pensar “contextual” ou
“sistêmica” envolve várias mudanças de ponto de vista.” São elas:
“Das partes para o todo. Os sistemas vivos são
totalidades integradas cujas propriedades não podem ser reduzidas às suas
partes menores. As suas propriedades “sistêmicas” são propriedades do todo que
nenhuma das partes tem.”
“Dos objetos para as relações. Um ecossistema não é uma
reunião de espécies, mas uma comunidade. As comunidades, sejam elas
ecossistemas ou sistemas humanos, são caracterizadas por séries ou redes de
relações. Na visão sistêmica, os objetos de estudo são redes de ralações
embutidas em redes maiores.”
“Na prática, as organizações formadas de
acordo com esse princípio ecológico têm mais probabilidade do que as outras de
estabelecer processos baseados no relacionamento, como a cooperação e a tomada
de decisão por consenso.”
“Do conhecimento objetivo para o conhecimento
contextual. A
mudança de foco das partes para o todo implica uma mudança do pensamento analítico
para o pensamento contextual. As propriedades das partes não são intrínsecas,
mas podem ser entendidas apenas dentro do contexto do todo.”
“(...) explicar as coisas em termos dos
seus contextos significa explicá-las em termos dos ambientes que as circundam,
todo pensamento sistêmico é um pensamento ambiental.”
“Da quantidade para a qualidade. Entender as relações não é fácil, especialmente para quem foi
educado de acordo com os princípios da ciência ocidental, que sempre sustentou
que só as ciências mensuráveis e quantificáveis podem ser expressas em modelos
científicos.”
“Muitas vezes deduziu-se disso, que os
fenômenos mensuráveis e quantificáveis são mais importantes – e talvez até
mesmo que o que não pode ser mensurado nem quantificado nem mesmo existe. Nem
todas as relações e contextos, entretanto, podem ser colocados numa escala ou
medidos com uma régua.”
"Da estrutura para o processo. Os sistemas se desenvolvem e evoluem. Assim, o desenvolvimento das
estruturas vivas está inextricavelmente ligado à renovação, mudança e
transformação.”
“Dos
conteúdos para os padrões. Quando traçamos mapas das
relações, descobrimos certas configurações nas relações que se repetem. Nós
chamamos essas configurações de “padrões”. Em vez de focar o que contém um
sistema de vida, nós estudamos os seus padrões.”
“No Ocidente, durante a maior parte do
tempo, o estudo da matéria predominou na ciência. Mas no final do século XX, o
estudo da forma voltou a ganhar presença, com o surgimento do pensamento
sistêmico.”
Diante desses conceitos de Kapra, nos deparamos com uma nova forma de pensar a ciência, o meio ambiente e, sobretudo, a questão da sustentabilidade.
Ver entrevista com Capra: http://www.youtube.com/watch?v=P6-yuMpk6B8